Por Antonio Luis Barboza Filho
CMC, carboximetilcelulose de sódio, ou goma de celulose, é um éter carboximetílico derivado da celulose amplamente utilizado na indústria alimentícia e em outros segmentos de mercado. Entre as várias funções que ele desempenha, sua função como espessante sem dúvida é a que mais se destaca face à demanda.
Suas características e propriedades básicas são solubilidade total em água fria ou quente; insolubilidade em solventes orgânicos; é fisiologicamente inerte (caloria zero); é um aditivo seguro (classificado como BPF pela ANVISA); possui alta capacidade de reter água; possui baixa atividade de água na forma sólida finamente dividida (não suscetível à contaminação microbiológica); é capaz de formar filmes flexíveis em determinados sistemas; apresenta comportamento reológico variável a critério da necessidade do mercado. Quanto ao espessamento, o CMC é capaz de espessar satisfatoriamente meios aquosos com diferentes patamares de viscosidade em virtude dos diferentes tipos/especificações existentes. A DENVER, por exemplo, possui mais de 200 tipos/especificações de CMC.
O CMC é obtido da celulose mediante um processo químico bem controlado. As fontes de celulose mais utilizadas na sua produção no Brasil (a DENVER é o único produtor nacional de CMC purificado) são o eucalipto e o algodão, ambas fontes renováveis e abundantes. Como a celulose pura também é obtida por um processo químico bem controlado, seu fornecimento ocorre com especificações bem definidas, o que, aliado ao controle de processo de produção do CMC, garante um espessante com faixas de viscosidade bem definidas em solução aquosa.
Como a produção do CMC é bem controlada e direcionada, ele é produzido com diferentes faixas de viscosidade nas classificações baixa, média e alta viscosidade. Em cada uma dessas classificações, há vários CMCs com diferentes faixas. Na classificação alta viscosidade, por exemplo, as faixas dos CMCs DENVERCEL (marca comercial da DENVER para CMC grau alimentício) são, em linhas gerais, 1000-2000 cP @ 1%, 1500-2500 cP @ 1%, 2000-3000 cP @ 1%, 2500-3500 cP @ 1%, e por aí vai até 8000 cP @ 1%.
Um ponto importante, e que deve ser ressaltado quando se discorre a respeito do tema espessamento, é que o espessamento é o resultado do sistema de aplicação (solvente, espessante e demais componentes). Isso parece óbvio e realmente é, mas no caso do CMC é importante chamar atenção para alguns aspectos que não costumam ser considerados ou percebidos.
Quando o CMC é abordado genericamente, discorre-se normalmente sobre suas características reológicas típicas em água pura (relação entre concentração em solução e viscosidade, pseudoplasticidade, tixotropia, etc.). O CMC, porém, assim como qualquer espessante, é aplicado em sistemas complexos que contêm vários componentes que podem restringir sua funcionalidade ou resultar em aspectos positivos e muito interessantes. Em alguns casos, esses aspectos não são percebidos em água pura, e realmente não há como percebê-los nessa condição. Dois exemplos distintos a respeito disso são dados a seguir.
Algumas publicações citam problemas decorrentes da utilização de CMC em sistemas com baixo pH. Isso porque meios que apresentam baixos pH podem tornar o CMC insolúvel. Isso é verdade para alguns CMCs em situações muito específicas, mas não para todos os CMCs. Os CMCs resistentes em meio ácido, muito consumidos pela indústria alimentícia, não apresentam qualquer problema quando são utilizados em sistemas com baixo pH. Funcionam perfeitamente bem como espessantes em tais sistemas.
O espessamento de sistemas lácteos com CMC é outro caso interessante. O espessamento nesses sistemas pode sofrer influência da interação química diferenciada do CMC com a caseína, algo muito peculiar ao CMC, mas não a outras gomas em virtude de sua funcionalidade química. Como o CMC pode formar complexos estáveis solúveis ou insolúveis com a caseína, isso pode alterar de modo positivo o grau de espessamento de sistemas lácteos. A interação do CMC com a caseína pode alterar o ponto isoelétrico dessa proteína e promover uma ótima estabilização do sistema, mesmo em altas temperaturas e baixos pH, condições não amistosas para as proteínas de modo geral.
Verifica-se, portanto, que a funcionalidade do CMC como espessante não raras vezes depende do sistema de aplicação. Cada sistema de aplicação, ou cada formulação particular, apresenta suas próprias características, que podem ser ruins ou boas para o CMC. Por outro lado, o CMC pode ser devidamente ajustado no processo de produção para que sua capacidade de espessamento não seja prejudicada por condições que não se mostrem a ele satisfatórias.
Assim é o CMC. Um espessante versátil e multifuncional. Capaz de apresentar diferentes facetas em virtude das demandas que lhe são impostas pelo mercado.
Antonio Luis Barboza Filho
Gerente Técnico
Denver Especialidades Químicas Ltda.